quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Atléticas

Por um debate sério, que fuja de propostas meramente eleitoreiras!

A nossa universidade está acompanhando o surgimento e consolidação de várias Associações Atléticas. Trata-se de um fenômeno relativamente novo aqui em Maringá, a atlética mais tradicional da cidade (Direito - UEM) completou, nesse ano, 6 anos desde sua fundação. 

Apesar de novas, as Atléticas já demonstram toda a sua força e seu potencial. Com grande apelo popular, elas organizam todo ano o maior evento universitário da cidade, o JOIA (Jogos Inter-Atléticas); além de participarem de outros eventos estaduais e regionais, representando a UEM fora de Maringá. No entanto, a Universidade ainda não as reconhece enquanto organizações estudantis.

Para buscarmos o reconhecimento institucional temos primeiro que entender melhor as Associações Atléticas Acadêmicas. Vamos, então, nos voltar à sua história em nosso país, identificando as normas que as legitimaram no ordenamento jurídico, e, principalmente, como isso se deu, para que não mais reproduzamos os erros do passado, e, que daqui pra frente possamos construir juntos um projeto de Esporte, Saúde, Lazer e Integração Acadêmica .



Um pouco de história...

Atlética da Faculdade de Direito da USP.
Fundada em 1933.
Para entendermos o que é uma Atlética temos que nos reportar à sua origem aqui no Brasil, as primeiras atléticas datam dos anos 30. Basicamente, essas associações se formaram a partir das divisões de esportes dos Centros e Diretórios acadêmicos, que já não atendiam tão eficientemente a demanda da comunidade acadêmica por esporte, lazer e atividades de integração universitária. 

Precisamos observar, no entanto, o caráter extremamente elitista da universidade e do acesso ao esporte na época.  O ensino universitário era exclusividade de uma pequena classe aristocrática e a prática esportiva se revelava como a prática da ostentação do poder.  Mas, foi diante dessa conjuntura que tivemos a importação e a popularização de diversas modalidades esportivas no Brasil.

Em 1941, o então presidente Getúlio Vargas estabeleceu as bases para a organização dos desportos universitários, através do Decreto-Leinº 3.617, de 15 de setembro. Dá-se então a legitimação das Associações Atléticas Acadêmicas em nosso ordenamento Jurídico e a fundação da Confederação dos Desportos Universitários (CBDU), entidade máxima de representação esportiva universitária, que, dentre outras funções, realiza os JUB’s (Jogos Universitários Brasileiros).

Essa Confederação, elitista e criada por Getúlio, nasce com um grande peso ideológico. Defendendo o Nacionalismo e mantendo o foco estudantil longe das contradições da sociedade da época, isso em plena segunda guerra mundial. A CBDU chega a promover até desfiles cívicos pra enaltecer o Brasil, sua força, sua ordem e o progresso. Enquanto a UNE (união nacional dos estudantes), que na época era uma entidade verdadeiramente de luta, realizava protestos contra a ditadura de Vargas e contra o Eixo, na segunda guerra.

Outro momento histórico importante para entendermos a relação entre as Atléticas e o Movimento Estudantil é a década de 60. Em 1962 a UNE se alia ao governo de João Goulart apoiando sua reforma educacional, que buscava uma ampliação e democratização do ensino. Em 31 de março de 1964 se deu o golpe militar, destituindo o governo de Jango, em 1º de Abril a sede da UNE foi incendiada e a entidade caiu na clandestinidade.

Mas, trata-se de um erro considerar que toda a organização estudantil foi perseguida pelo regime, ao contrário, os militares chegaram a criar outra entidade para organizar o Movimento Estudantil Nacional, logo em novembro de 1964, o DNE 4464 (Diretório Nacional dos Estudantes), tentativa que logo falhou. O regime ainda tentou organizar o Movimento Estudantil formal, em 67 e em 79.

No âmbito esportivo, foi criado o programa EPT (esporte para todos), projeto carregado de nacionalismo totalitarista, que surge com o pressuposto de ajudar no fortalecimento da nação, em razão de ter o suposto potencial de demonstrar o quanto cada um poderia se doar pelo Brasil, por meio de um esforço individual e patriótico.

JUB's - Fortaleza - 1972
Com essa lógica, vinculando a ideologia Nacionalista com a prática esportiva, o regime militar apóia o esporte no ensino superior, através do Decreto-Lei nº 705, de 25 de julho de 1969. As Atléticas passam a ser utilizadas como uma forma de organização neutralizante de debates políticos, desviando o foco de atuação estudantil da política para a competição esportiva. A ditadura financia os grandiosos JUB’s, jogos universitários nos quais os militares faziam a abertura cantando e tocando o hino nacional, demonstrando sua força e espalhando sua ideologia.


Rompendo as amarras, pelo novo!

Como foi dito no início do texto, aqui em Maringá o fenômeno das atléticas é novo, nenhuma atlética da cidade passou por esse histórico esportivo universitário. Mas, mesmo assim, elas o herdaram, com todos os prós e contras que isso possa significar.

  • Os prós: foram criadas várias leis que já incluem as Atléticas no ordenamento jurídico, podendo elas ser invocadas para legitimar as Atléticas Maringaenses.


  • Os contras: aprendemos que nenhuma organização está isenta de política, e cabe a quem compõe uma Atlética delimitar os seus valores, para evitar a sua utilização como um “mau” aparelho.


O Diretório Central dos Estudantes não pode intervir na autonomia das Atléticas. Mas a chapa Movimente-se UEM convida todas para um debate mais aprofundado sobre o papel do esporte dentro da Universidade e a necessidade da promoção da Saúde, do Lazer e da Integração Acadêmica. E assim, legitimarmos, juntos, as AAA's na UEM.

Pense,
Participe,
Movimente-se!

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